13/06/2012

Compreender É Derrotar

Aleksandr Dugin



Um estudo objetivo e imparcial do destino religioso, cultural e histórico do povo judeu pode resultar em uma grande conclusão, a qual somente poderá ser desafiada por completos hipócritas ou diletantes. Essa conclusão consiste no seguinte: os judeus são os portadores de uma cultura religiosa que é profundamente distinta de todas as demonstrações históricas de espiritualidade indo-europeia - dos antigos cultos pagãos ao hinduísmo e ao cristianismo. A isolação voluntária ou forçada da diáspora judaica em relação aos povos indo-europeus não pode ser um episódio casual da história, e nenhum judeu ortodoxo jamais negará a base teológica subjacente nessa "peculiaridade" judaica. A questão judaica, não importando por quem ou como ela foi colocada, deve começar com um reconhecimento desse fato fundamental - "os judeus são uma comunidade que guarda o segredo de suas diferenças radicais de outros povos". Se nós não admitimos distinção, então é simplesmente sem sentido falar sobre a questão judaica.

Obviamente a distinção entre pessoas e comunidades é o que constitui, estritamente falando, sua essência e singularidade histórica e espiritual. A distinção entre comunidades étnicas é também o instrumento para definir sua percepção da própria identidade. E onde esteja presente na civilização indo-europeia, que une uma varidade de formações étnicas, estatais e políticas, a comunidade judaica sempre foi experimentada como algo estranho, como algo profundamente alienígena ao modo de pensar e cultura dos indo-europeus.

A investigação dos princípios metafísicos, sobre os quais, por um lado, a metafísica judaica é baseada, e por outro lado o espectro tradicional indo-europeu unido por um "estilo" metafísico comum, inequivocadamente demonstra que a distinção básica entre a teologia dos judeus e a teologia dos indo-europeus é um modo de compreender o Cosmos. O judaísmo vê o mundo como uma criação alienada de Deus, como um exílio, como um labirinto mecânico, no qual vaga o povo escolhido, cuja missão real não é encontrada nas famosas vitórias de Josué, filho de Nun ou do profeta Esdras, mas nas reviravoltas trágicas da dispersão. Em particular a diáspora corresponde bem precisamente ao espírito do judaísmo clássico, traçando um abismo intransponível entre o Criador e a Criação.

As tradições indo-europeias, incluindo o cristianismo, que se espalhou principalmente entre os indo-europeus, insistem em uma visão completamente diferente do Cosmos. O Cosmos indo-europeu é uma realidade viva, que é conectada diretamente com Deus ou, pelo menos, com o Filho de Deus. Mesmo nos tempos mais sombrios, na Idade do Lobo, sobre a qual a tradição nórdica fala, a conexão entre Criação e o Criador, os habitantes do Espaço e o Caos Primal, não é rompida. Ela continua através do milagre da Eucaristia, da qual um elo misterioso e contínuo permanece ininterrupto apesar das mais terríveis perseguições da Igreja, ou através da superação heróica, ou através de um ascetismo corajoso e salvífico. A consciência religiosa indo-europeia é uma consciência predominantemente indígena, uma consciência conectada com o solo ao invés da dispersão, com posse ao invés de perda, e com conexão ao invés de separação.



Foi essa distinção fundamental em relação à perspectiva global que inicialmente traçou uma linha de separação entre a visão-de-mundo judaica e a compreensão indo-europeia do Sagrado. Judeus ortodoxos, segundo seus próprios prospectos religiosos e místicos, consideram não-judeus como "goyim" (não-judeus). Em muita literatura existente em língua inglesa, os indo-europeus são percebidos como "otimistas infantis e ingênuos", não percebendo os terríveis segredos do Abismo, o drama teológico da dispersão e os segredos terríveis da diáspora cósmica. Os indo-europeus, por sua vez, acreditam que o "pessimismo religioso" dos judeus deforma as proporções do Cosmos Sagrado, retira dele suas energias salvíficas, profanando a Terra, o Espaço, o Tempo e o destino único dos povos indígenas. É necessário começar ao nível da buasca por aquela Distinção primordial e insuperável, que encarnou historicamente nas diferenças éticas, nacionais, culturais, políticas e econômicas entre "Judeus" e "Helenos". Em um certo sentido, a afirmação de São Paulo, o Apóstolo de que "não há judeus, nem helenos" carrega consigo um sabor "indo-europeu", porque no contexto de um apelo providencial da religião cristão aos povos do norte, aos indo-europeus, ela carregou consigo a idéia de que "não há judeu", enquanto que o "heleno" (modificado e convertido, mas não obstante ainda "helênico") existe. O caráter anti-judaico da mensagem cristão foi perfeitamente compreendido pelos judeus ortodoxos (o que já afetou o Talmud), pelos Pais da Igreja e posteriormente pela maioria dos teólogocs cristãos ortodoxos.

Nossas visões-de-mundo são diferentes, elas são até mesmo bastante opostas. Ademais, algumas vezes elas se exluem mutuamente. Mas o próprio reconhecimento dessa oposição eleva nosso espírito às alturas de um problema puramente metafísico. Foi em oposição aos fariseus que o Salvador formulou o princípio fundamental de nossa nova religião indo-europeia?

Um diálogo metafísico com a metafísica judaica, a tradição judaica e o espírito judaico deveria necessariamente começar no mais alto nível. Não há dúvidas de que essa corajosa colisão de dois universos metafísicos é capaz de despertar a consciência sagrada adormecida dos indo-europeus. Foi até mesmo pela negação total dos "impérios goyim" que a clara e aperfeiçoada doutrina judaica foi construída ao longo de milênios. Ao invés de uma semi-reconciliação frouxa e ecumênica baseada na negação mútua de nossas profundas tradições, uma livre e viçosa oposição entre as metafísicas da "diáspora" e a "indígena" concederão uma força original, um aspecto providencial sagrado ao diálogo indo-europeu/judaico.

Chega um tempo em que devemos abordar as coisas com seus verdadeiros nomes. As energias de nossas comunidades étnicas, nossos instintos "religiosos", teológicos e sacrais logo irromperão através dos farrapos das doutrinas anti-naturais, insolventes, irrealistas e não-explanatórias (sejam elas marxistas, economicistas ou liberais). Para impedir que essas energias sigam pela terrível trajetória do ódio cego e da violência, nós devemos erguer os estandarts metafísicos da luta inevitável do futuro de antemão, devemos estabelecer regras cavalheirescas e não admitir a transformação da grande e profunda disputa metafísica em uma "guerra total", sobre cujos riscos o inteligente jurista alemão Carl Schmitt alertou.

A diferença entre guerra metafísica e guerra física é que a primeira aspira a uma vitória da síntese tradicional da Verdade e, em segundo lugar, aspira a fazer um dois dos lados combatentes vitorioso. Nenhum dos métodos físicos é aceitável nessa oposição histórica dramática. Os campos de concentração alemães, percebeu-se, podem destruir judeus, mas não são capazes de extirpar a Judiaria. Por outro lado os comissários hassídicos foram incapazes, apesar de todo seu genocídio sanguinário, de apagar a população do eterno "Império Russo".

Mesmo esses exemplos demonstram, que a "questão judaica" e a "questão goyim" são impossíveis de resolver pela força física. Em relação à malícia judaica - uma arma da "minoria eterna" - a história mostra que ela às vezes cede à agudeza da mente indo-europeia. E ademais, os judeus às vezes se envergonham da diáspora e de suas táticas duvidosas e revelam aos "goyim" os terríveis segredos da "guerra judaica" (Arthur Koestler, Otto Weininger, Michelstaedtter, Martin Buber, etc.).

O tempo requer que ajamos abertamente. E é por isso que é tão valioso que no campo judaico haja tradicionalistas corajosos, nobres e profundos, que, sem dar um passo para longe da fidelidade tradicional à religião "iídiche", rejeitam a "mentira tática" de seus irmãos religiosos apelando a nós - nós os indo-europeus, nós os cristãos, nós os indígenas - para fortalecer nossas próprias posições antes da Batalha Final. Nossos Universos pertencem a pólos opostos da realidade. Tudo é diferente neles - a Shekhina expulsa e sofredora é incomparável com a comunidade espiritual da elite indo-europeia - no que se refere à igreja cristão e ao triunfo eterno de sua presença. Apenas uma coisa aproxima nossos mundos: Aqui e lá à "direita", mesmo em campos opostos, é atribuída a mesma nobreza, o mesmo estilo de honra e justiça, pela qual, os "liberais" de ambos Universos não são conhecidos. Ainda que isso certamente se refira não tanto à "direita" usual mas aos "Conservadores Revolucionários", aos intelectuais radicais, aos tradicionalistas e à elite religiosa.

O mundo da "Judaica" é um mundo hostil a nós. Mas nosso senso de justiça indo-europeia e a gravidade de nossa situação geopolítica demanda a compreensão de suas leis, regras e interesses.

A elite indo-europeia se encontra hoje diante de uma tarefa titânica - compreender aqueles que são não apenas culturalmente, nacionalmente e politicamente, mas também metafisicamente diferentes. E nesse caso, "compreender" não significa "perdoar", mas "derrotar". E "derrotar com a Luz da Verdade".