21/03/2014

Arthur Lepic - A Ultrajante Estratégia para Destruir a Rússia

por Arthur Lepic



Zbigniew Brzezinski, ex-assessor do Presidente Jimmy Carter, incorpora a continuidade da política externa americana seja ela democrática ou republicana. Um grande admirador de Henry Kissinger, Brzezinski sempre defendeu, elogiou e demonstrou absoluto respeito pelos dois conceitos diplomáticos do mestre: a balança de potências teorizada por Metternich e a doutrina de contenção de George Kennan. Zbigniew Brzezinski recomenda como a Rússia deve ser militarmente enfraquecida e intimidada. Ele está convicto de que a melhor maneira de alcançar isso é pela desestabilização de suas regiões fronteiriças, uma estratégia política que despertou o interesse da equipa do outrora candidato presidencial John Kerry que recrutou seu filho Mark Brzezinski como seu assessor para política externa.

Com base no discurso da campanha presidencial de George W. Bush em 2000, uma atitude rígida, até mesmo agressiva em relação à Rússia de Vladimir Putin seria de esperar, segundo a doutrina de seu assessor "falcão" Wolfowitz. Mas, ao invés, nós temos visto uma aproximação sem precedentes nas relações políticas dessas duas grandes nações. E isso aconteceu antes de 11 de setembro de 2001.

Para muitos observadores e analistas houve um acordo entre Putin e Bush para não criticar as operações militares russas na Chechênia enquanto Putin ignoraria as intervenções e interferências americanas no Oriente Médio.

Essa explicação não leva em consideração realmente os fatos do 11 de Setembro. Ela na verdade os considera uma abstração e o mesmo com a posição do Kremlin em relação a isso. Nós podemos dizer que as administrações republicanas sempre atribuíram muita importância ao Oriente Médio enquanto a tradição política democrata de política externa tem sido mais focada na Eurásia.

Para projetar sua estratégia perante a ex-URSS e então sobre os Estados orientais recém-emancipados da influência soviética, os democratas tem confiado - desde que Jimmy Carter assumiu o poder - em um homem brilhante, inescrupuloso e anti-russo: Zbigniew Brzezisnki.

A doutrina desse conhecido professor tem muitos seguidores fora do Partido Democrata porque ela definiu o imperativo real da sobrevivência e prosperidade do império: a conquista da Eurásia.

Esse professor nasceu na Varsóvia em 1928, filho de um diplomata polonês. Aos dez anos de idade, Brzezinski imigrou para o Canadá quando seu pai se distinguiu. Ele conseguiu seu diploma e seu mestrado na Universidade de McGill, Montreal, e então seu PhD em Harvard em 1953. Depois disso, ele se tornou um cidadão americano e se casou com a filha do ex-presidente da Tchecoslováquia Eduard Benes.

Entre 1966 e 1968 ele foi um membro do Conselho de Planejamento de Políticas do Departamento de Estado onde ele desenvolveu a estratégia de "envolvimento pacífico" em relação à União Soviética no esquema da Guerra Fria. Em outubro de 1966, ele convenceu o Presidente Johnson a modificar as prioridades estratégicas de modo a ter o "descongelamento" antes da reunificação alemã.

Durante a campanha presidencial de 1968, Brzezinski foi o líder do grupo de trabalho encarregado da política externa do candidato democrata Hubert H. Humphrey, que perderia para Richard Nixon.

O Líder Inspirador da Comissão Trilateral

No início da década de 60, Brzezinski se distinguiu como analista quando profeticamente anunciou o aparecimento de maiores atores no poder global. Ele estava falando sobre Europa e Japão cujas economias haviam tido um rápido crescimento depois da Segunda Guerra Mundial.

Em um artigo publicado na revista Foreign Affairs, ele falou sobre sua visão dessa "nova ordem mundial". "Uma nova e mais ousada visão é necessária - a criação de uma comunidade de países desenvolvidos capazes de eficientemente lidar com os problemas da humanidade. À parte dos EUA e da Europa Ocidental, o Japão deveria ser incluído (...) Um bom começo seria um conselho formado por representantes dos EUA, Europa Ocidental e Japão, que realizarão encontros regulares entre os chefes de governo e personalidades menos relevantes".

Em 1970, Brzezinski também propôs novas idéias em seu novo livro Entre Duas Eras onde ele explicou que o momento para equilibrar o poder global havia chegado e ele tinha que estar nas mãos de uma nova ordem política global baseada em um elo econômico trilateral entre Japão, Europa e EUA. A revolução nas técnicas de produção e a transformação da indústria pesada em eletrônica tinha que causar uma perturbação de sistemas políticas e uma nova geração de elites de poder. David Rockefeller, excitado sobre esses conceitos, o contratou para criar a Comissão Trilateral e o apontou diretor. A comissão foi oficialmente estabelecida em 1973 e reuniu personalidades importantes relacionadas ao comércio mundial, o sistema bancário internacional, governadores e a grande mídia européia, japonesa e americana.

Quando a primeira crise do petróleo ocorreu, a principal preocupação desses mestres das finanças globais era se livrar da dívida externa de países em desenvolvimento pelo fortalecimento do papel do Fundo Monetário Internacional. Também era a de fortalecer e estender a hegemonia americana - por aquela época vulnerável devido a sua derrota militar no Vietnã - em cada fronteira geográfica do continente eurasiano onde eles foram bastante influentes após a Segunda Guerra Mundial.

Essa missão, se analisada desde um ponto de vista de um neófito, retrata Brzezinski como um defensor da paz, um homem em favor de relações multilaterais e da redução da tensão mundial (Guerra Fria) e - aos olhos da extrema-direita - um homem inspirado pelo marxismo.

O melhor a ser feito de modo a implementar os planos da Comissão Trilateral era tornar um de seus membros o Presidente dos Estados Unidos.

Presidente Cartar e a Duplicidade

Desde a criação da Comissão Trilateral, o pastor Jimmy Carter estava entre os membros do time Rockefeller-Brzezisnki. Ele abriu os primeiros escritórios comerciais do estado da Geórgia em Bruxelas e Tóquio e isso o tornou o modelo ou conceito fundador ideal da Comissão. Para sua nomeação como candidato eleitoral para a eleição presidencial em 1976, Rockefeller usou suas relações em Wall Street e pôs Brzezinski para trabalhar, cuja influência acadêmica auxiliar o candidato democrata Jimmy Carter foi muito útil para vencer a eleição. E, é claro, quando Carter venceu as eleições, Brzezinski foi apontado Conselheiro de Segurança Nacional.

Como presidente, Carter defendeu a redução do arsenal militar nuclear dos dois blocos (EUA/URSS) como prioridade. Porém, a crise dos mísseis soviéticos SS-20 apontados para a Europa forçou Carter a posicionar os mísseis Pershing, uma ação que arruinou seus esforços, fossem eles sinceros ou não, e causou a desconfiança mútua dos dois países.

Pode ser afirmado que por aquela época, o bloco soviético tinha boas razões para crer que seu adversário estava envolvido em duplicidades: a derrota militar americana no Vietnã os forçou a manter certas reservas nos campos militar e estratégico enquanto Brzezinski trabalhava em seu plano de guerra de preparar uma armadilha para a União Soviética para forçá-la a se envolver em um conflito periférico.

A desestabilização do regime comunista afegão e o financiamento e envio das primeiras armas para os jihadistas anticomunistas em 1979 causou, como esperado, a intervenção do Exército Vermelho no Afeganistão. Brzezinski tinha o apoio dos serviços de inteligência e espionagem do Paquistão, a temida ISI.

Quando a revista francesa Le Nouvel Observateur entrevistou Brzezinski em 1998, ele admitiu que armar as tropas anti-soviéticas de Bin Laden foi antes da invasão russa e foi objetivada a provocar a sua reação:

Le Nouvel Observateur: O ex-diretor da CIA, Robert Gates, diz em suas memórias: os serviços secretos americanos ajudaram os mujahedeen afegãos seis meses antes da invasão soviética. Por aquela época, você era conselheiro do presidente Carter e desempenhou um papel fundamento nisso. Você confirma?

Zbigniew Brzezinski: Sim. Segundo a versão oficial da história, a CIA começou a ajudar os mujahedeen no ano de 1980, isto é, após a invasão do exército soviético contra o Afeganistão em 24 de dezembro de 1979. Mas a verdade que permaneceu secreta até hoje é bastante diferente: foi em 3 de julho de 1979 que o presidente Carter assinou sua primeira ordem sobre ajuda secreta aos oponentes do regime pró-soviético de Cabul. Aquele dia eu escrevi um memorando ao presidente no qual eu lhe disse que o auxílio causaria a intervenção soviética (...) nós não forçamos a intervenção russa, nós apenas, conscienciosamente, aumentamos as possibilidades de intervenção.

NO: Quando os soviéticos justificaram sua intervenção afirmando que eles estavam combatendo uma interferência secreta americana ninguém acreditou neles, ainda que eles estivessem falando a verdade. Você não se arrepende?

Z. Brz.: Me arrepender do que? Aquela operação secreta foi uma excelente idéia. Seu objetivo era levar os russos à armadilha afegã, e você quer que eu me arrependa? No mesmo dia que os soviéticos cruzaram a fronteira afegã eu escrevi o seguinte ao presidente Carter: "Essa é nossa chance de dar à Rússia seu próprio Vietnã" (...).

NO: Você não se arrepende também por favorecer o fundamentalismo islâmico e fornecer armas e consultoria para futuros terroristas?

Z.Brz.: O que é a coisa mais importante quando você olha para a história mundial, o Talibã ou a queda do Império Soviético? Alguns islamistas excitados ou a liberação da Europa Central e o fim da Guerra Fria?

Quando Brzezinski falou sobre "alguns islamistas excitados" nessa entrevista, ele não subestimou o poder da Al Qaeda. Ele apenas descreveu a realidade do que os neoconservadores transformaram em um mito para justificar sua cruzada global. É óbvio que nenhum dos membros do Conselho de Relações Exteriores seria tão categórico.

Aliança Objetiva com a China e Apoio Incondicional ao Xá do Irã.

Mesmo quando Nixon e Kissinger foram cautelosos sobre cercar a URSS e restauraram relações com a China, um número de conselheiros próximos de Carter que não apoiou essa reaproximação que Brzezinski tinha em mente.

Quando Carter se tornou presidente, ele afirmou que estabeleceria um diálogo com a URSS e manteria a República Popular da China à distância. Mas, seu Secretário de Estado, Cyrus Vance, se opôs à obsessão anti-russa de Brzezinski e Carter não teve escolha a não ser conciliar os antagonismos de sua administração.

Usualmente, o mediador entre esses dois pólos era Richard C. Holbrooke, futuro embaixador americano à ONU e conselheiro de política externa da campanha de John Kerry, junto com Mark Brzezinski, filho de Zbigniew. Segundo Cyrus Vance e alguns outros favoráveis a estabelecer o diálogo, como o democrata renegado Averell Arriman, a lógica triangular do cerco só levaria, na melhor das hipóteses, a um mal entendido com a URSS, sem mencionar a possibilidade de guerra.

Eles recomendaram diálogos sobre desarmamento e cooperação com a União Soviética para neutralizar os conflitos do Terceiro Mundo. O restabelecimento de relações com a China foi mantido; Brzezinski até completou um programa conjunto de cooperação estratégica e conseguiu manter boas relações pessoais com Deng Xiaoping, algo que realmente o ajudou hoje em dia.

A desconfiança de Brzezinski em relação a URSS pode ser percebida novamente em sua atitude perante o Irã, que sob o regime do Xá era considerado um bastião contra a influência soviética no Oriente Médio. Brzezinski prometeu ao Xá seu apoio até o último momento e pediu a intervenção militar americana para mantê-lo no poder mesmo quando parte da administração de Carter, liderada por seu Secretário de Estado, se opôs.

Porém, as ações concretas de Washington foram implementadas segundo o ponto de vista do Departamento de Estado e apesar de todas as negociações com os generais que derrotaram o Xá para garantir um regime moderado no país; foi Khomeini que tomou o poder após uma manifestação popular se espalhar. Khomeini se juntou a Carter nas negociações de Camp David em 1977 e desempenhou um papel fundamental no acordo de paz entre Israel e Egito sem nem estar presente nos debates mais importantes. Porém, quando a URSS era o tópico principal, ele sempre estava ali.

A Ameaça Russa e a Supremacia Americana

Em 1989, Brzezinski deixou seu emprego na Universidade de Columbia onde ele ensinava desde 1960 para trabalhar no plano de independência da Ucrânia. Isso marca o início de seu compromisso de impedir o ressurgimento da Rússia como superpotência. Ele defendia a integração da Rússia ao sistema ocidental e o "sistema geopolítico multipartidário" no território da ex-URSS.

Ele também desenvolveu um "plano para a Europa" que incluía a expansão da OTAN até as repúblicas do Báltico, um sonho que se tornou realidade quando três delas se uniram à OTAN em 2002. Durante a década de 90 ele foi o enviado especial do presidente americano para promover o mais importante projeto de infraestrutura de petróleo do mundo: o oleoduto Baku-Tblisi-Ceyhan que foi sua melhor oportunidade de impedir o ressurgimento da Rússia. Ele também tem sido, desde 1999, o presidente do Comitê Americano para a Paz na Chechênia, cuja base está localizada nas instalações da Freedom House. Essa posição lhes permite intervir em negociações de paz entre o governo russo e combatentes independentistas liderados por Mashkadov. Porém, a verdade por trás dessas atividades "democráticas" de boa vontade é ajudar independentista a manter uma guerra na área, como a afegã, para enfraquecer os russos e mantê-los longe dos ganhos do Mar Cáspio.

A doutrina de Brzezinski ("O poder que governar a Eurásia controlará duas das áreas economicamente mais avançadas e produtivas do mundo") está relacionada à expansão da OTAN para o Oriente, algo em que a administração de Clinton trabalhou ativamente. Mas, como eles poderiam vender a OTAN para os europeus? "A região européia localizada na borda ocidental da Eurásia e próxima da África está muito mais exposta aos riscos da desordem global crescente do que uma América mais politicamente unida, militarmente poderosa e geograficamente isolada (...).

Os europeus estarão mais expostos a risco se um chauvinismo imperialista encorajar a política externa da Rússia", disse Brzezinski à revista National Interest no ano 2000. A coisa toda é bem clara: o posicionamento de forças da OTAN ao redor da Rússia era uma medida preventiva. Se a reação da Rússia fosse defensiva, isso significaria que ela estava planejando restaurar seu império e totalitarismo.

Brzezinski tem trabalhado também como consultor para a BP-Amoco e a Freedom House no Azerbaijão. Seu objetivo é adorar a imagem de Heidar Aliyev e em uma entrevista para o New York Times caracterizou o ditador como um "cara legal". Brzezinski justifica o apoio anglo-saxão a Aliyev explicando que após sete décadas de governo comunista ninguém pode esperar que o Azerbaijão e as antigas repúblicas soviéticas se tornem nações democráticas em um período tão curto de tempo.

Mesmo quando a repressão política de Aliyev aumentou durante os últimos anos e os ganhos do Mar Cáspio diminuíram, o Azerbaijão ainda era considerado pela Freedom House como um país "parcialmente livre". Em 1999, o a Secretária de Estado e discípula de Brzezinski, Madelein Albright, convidou Heidar Aliyev para a cerimônia de aniversário da OTAN. De sua parte, a Geórgia, o Azerbaijão e a Ucrânia organizaram algumas manobras militares conjuntas patrocinadas pelo programa de "Associação para a Paz" da OTAN, em 16 de abril de 1996.

Apesar de suas atividades como consultor para a BP-Amoco e para a Freedom House, Brzezinski apoiou um sistema de fundos e ONGs em apoio às elites e intelectuais da ex-URSS.

Como uma iniciativa do Comitê Americano para a Paz na Chechênia, cujo presidente era Brzezinski, um encontro entre os principais líderes do movimento checheno foi realizado entre 16 de agosto e 18 de agosto de 2002 em Lichtenstein, dois meses depois da que foi realizada com Basayev e Maskhadov, onde um acordo foi assinado sobre a direção mútua das "Forças Armadas da República Ichkeria da Chechênia". Os participantes concluíram que a Chechênia não deveria mais ser parte da Rússia, que uma autonomia real era necessária e que o tempo para negociar com Maskhadov havia chegado. Mas, teria sido o evento com reféns em Beslan, como afirmado por Basayev, parte do processo de luta pela independência da Chechênia ou parte do processo de desestabilização da Rússia.

Diversas questões poderiam ser levantadas se levarmos em consideração que a principal consequência dessa ação foi um acirramento de tensões entre Ossétia do Norte e a vizinha Inguchétia, isto é, uma balcanização muito mais relevante da região.

Hoje em dia, Brzezinski é bastante ativo na CSIS mas ele ainda é o cérebro do programa de política externa dos democratas, algo que é bastante evidente na obsessão do candidato Kerry e seu parceiro John Edwards com a Rússia. Seguindo os conselhos de Mark Brzezinski eles escolheram como sua principal prioridade o desarmamento nuclear da Rússia em um momento em que ela recuperou a mesma produção de petróleo que tinha antes do fim da URSS e está se beneficiando amplamente dos preços atuais do petróleo que lhe permitiram dobrar seu orçamento de defesa. Portanto, o arsenal nuclear da Rússia não é, como diz John Kerry, uma ameaça presente.

O real objetivo de Kerry está relacionado à estratégia de Zbigniew Brzezinski de subordinação da Rússia, mas, de agora em diante, será muito mais difícil convencer a opinião pública mundial da maldade e totalitarismo da Rússia. Portanto, é necessário provocar sua reação como foi feito com o caso afegão em 1979, porque a Rússia não terá problemas com seu fornecimento de energia nas próximas décadas, uma preocupação real dos EUA. É por isso que em algumas entrevistas recentes ao Wall Street Journal e ao Novaya Gazetta, Brzezinski caracterizou Vladimir Putin como o "Benito Mussolini russo".